Esse blog foi criado para divulgar o trabalho do Canto Cidadão, Organização Não Governamental (ONG), da qual a Drª Risadinha Risolina é voluntária. Nesta página você lerá textos que expressam as experiências que tenho vivido.



sábado, 19 de abril de 2008

Chico Mineiro


A música abaixo é uma homenagem aos meus amigos, Antonio, Elcio e Polenticão, que são sertanejos de plantão.
Um grande beijo!

CHICO MINEIRO
Composição: Tonico e Francisco Ribeiro


Cada vez que me "alembro"
do amigo Chico Mineiro,
das viage que nois fazia
era ele meu companheiro.
Sinto uma tristeza,
uma vontade de chorar,
alembrando daqueles tempos
que não hai mais de voltar.
Apesar de ser patrão,
eu tinha no coração
o amigo Chico Mineiro,
caboclo bom decidido,
na viola era delorido e era o peão dos boiadeiro.
Hoje porém com tristeza
recordando das proeza
da nossa viage motin,
viajemo mais de dez anos,
vendendo boiada e comprando,
por esse rincão sem-fim
caboco de nada temia.
Mas porém, chegou o dia
que Chico apartou-se de mim.

Fizemo a urtima viage
Foi lá pro sertão de Goiai.
Fui eu e o Chico Mineiro
também foi um capatai.
Viajemo muitos dia
pra chega em Ouro Fino
aonde noi passemo a noite

numa festa do Divino.
A festa tava tão boa
mas ante não tivesse ido
o Chico foi baleado
por um home desconhecido.
Larguei de compra boiada.
Mataram meu cumpanheiro.
Acabou o som da viola,
acabou seu Chico Mineiro.
Despoi daquela tragédia
fiquei mais aborecido.
Não sabia da nossa amizade.
Porque nós dois era unido.
Quando eu vi os seus documentos
me cortou meu coração
vim sabê que o Chico Mineiro
era meu ligítimo irmão.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Sertanejo nato



Entramos no quarto de seu Antonio e conversamos com seu sobrinho e sua esposa. Eles nos contaram que ele é o violeiro e animador oficial das festas da família.
Por isso, pedi que cantasse alguma coisa, mas a voz dele não saia. Então, líamos os lábios dele e lembrávamos da letra da música. Parecia uma brincadeira, pois ele movimentava a boca e nós emprestávamos as vozes.
Foi um momento muito tocante, uma vez que ele realmente estava se esforçando para cantar, mas o som da voz não saia. Deu para perceber o quanto ele gosta de cantar.

Nos despedimos e fomos falar com os outros amigos.

... alguns minutos depois...

Não acredito que as coisas aconteçam por acaso, mas acredito em milagres. Quando já íamos embora o Caboclinho teve a idéia de voltar no quarto do seu Antonio para conversar um pouco mais com o outro paciente, o seu José, que acompanhamos há meses.
Ao entramos novamente no quarto ficamos boquiabertos, pois o seu Antonio, aquele mesmo que há uns 50 minutos não conseguia articular uma palavra, estava cantando alto e com toda energia as músicas que tanto ama.

Falamos para a esposa dele

Dr.Caboclinho e DrªRisadinha: - Mas como isso é possível?

Clara: Foi a visita de vocês. Ele não falava nada há dias.

Seu Antonio não nos deixou nem raciocinar sobre o assunto e começou a cantar.

Seu Antonio: - Fui eu e o Chico Mineiro, também foi um capatai... e emendava uma música na outra.
Demos tchau e ele continuava a cantarolar. Ao colocar os pés no corredor concluímos que os habitantes daquele setor não dormiriam essa noite (rs).

Todos os relatos são baseados em fatos reais, porém, os nomes dos personagens são fictícios para preservar sua identidade.

Sonho construído bloco a bloco


Pessoal, minha amiga Havolene escreveu um texto e resolvi postar aqui.

Casa. O que vem à sua cabeça quando pensa nessa palavra? O normal é imaginar um lugar confortável, onde uma pessoa ou uma família viva e passe momentos juntos, realizando suas atividades pessoais.
Por vezes, desejamos possuir mais que uma...como cantava Elis Regina “Quero uma casa no campo, onde eu possa ficar do tamanho da paz (...) Onde eu possa plantar meus amigos, meus discos e livros e nada mais”.
Em resumo, casa significa refúgio, um lugar seguro. Porém, muitos não têm nem um espaço minimamente digno e vivem, ou mais exatamente sobrevivem longe desse lugar ideal.
Assim, um direito garantido pela Constituição torna-se um sonho, quase uma utopia.
Infelizmente, essa ainda é a realidade de muitos. Difícil apontar culpados: poder público, crescimento desordenado, falta de planejamento familiar, desemprego?
Em meus garimpos como repórter fui à casa de uma família beneficiada por um programa social. A mãe que vivia com os cinco filhos em um quarto sem janela, dividindo espaço com fogão, pia, geladeira, dormia sentada. Afinal, não deixaria um filho dormir na cadeira. O mais emocionante foi o depoimento do menino de 10 anos, muito inteligente e esperto. “Antes tinha vergonha, mas agora posso convidar meus amigos para virem me visitar”.
É uma lição de vida conhecer a realidade de tantos que lutam - como eu e você - por um futuro melhor e ter a impressão de que não saem do lugar. Ao mesmo tempo, é como uma renovação na alma quando se presencia a esperança e o otimismo dessas famílias diante de seu duro cotidiano.
E a cada mês conquistam com seu trabalho e suor um metro de piso e areia, um milheiro de blocos. Pode parecer pouco, mas para eles isso vale muito, significa construir degrau por degrau a dignidade de sua família.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Chuva de prata


Hoje encontrei um amigo da Havolene e ele insistia que eu era ela. Vê se pode, mas até entendo o rapaz, pois a convivência faz com que as pessoas se pareçam mesmo. Diante de tanta insistência a Drª Risadinha ficou amiga dele também.

Logo depois conhecemos dona Vitória que ama Vicente Celestino e Jair Rodrigues. Porém, como ela não ajudava a escolher ou lembrar de uma música resolvemos cantar:

Drª Risadinha e Dr.Caboclinho: - Ala la ohooho, mas que calor ohooho.

Daí ela se manifestou e pediu...

- Vocês conhecem a jardineira?

Drª Risadinha e Dr.Caboclinho: - Que jardineira? Aquele ônibus ou a roupa?

Vitória: - Não, aquela música: oh, jardineira por que estais tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu.

Drª Risadinha e Dr.Caboclinho:- Pegamos a senhora... cantou tudo sozinha. (risos)

Vitória: - Vocês sabem o que é uma jardineira?

Drª Risadinha e Dr.Caboclinho: - Não.

Vitória: - É uma flor.

Drª Risadinha e Dr.Caboclinho: - É isso aí, dona Vitória também é cultura.

No quarto dos Carlos: João Carlos, Roberto Carlos e seu Carlos a animação era missão quase impossível, mas eis que a filha de seu Carlos revelou que a música preferida dele é: Chuva de Prata. Pra que? Soltamos o gogó. Foi tanto que até as enfermeiras vieram correndo ouvir.

Drª Risadinha e Dr.Caboclinho:-
Chuva de prata que cai sem parar, quase me mata de tanto de esperar...

Seu Carlos, filha dele, Drª Risadinha e Dr.Caboclinho:...você deve acreditar no que é lindo.

Todos: - Quando o amor disser vem comigo, pode ir fundo.... isso que é o que seu Carlos?

... Isso que é viver.

E a alegria que tomou conta de seu Carlos ajudou a animar os companheiros.

Depois o Dr.Caboclinho me contou que seu Carlos tem catarata, e, por isso, ficou cego. Ao saber disso, fiquei emocionada e impressionada, pois dos três pacientes presentes, ele foi o mais participativo e em nenhum momento percebi sua cegueira, pois vê com os olhos da alma.
Todos os relatos são baseados em fatos reais, porém, os nomes dos personagens são fictícios para preservar sua identidade.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Significado

Quando entramos em um dos quatros a luz estava apagada e Joana dormia. Ao acordar e abrir os olhos espantou-se:

Joana: - Uai (com uma cara do tipo não estou entendendo nada)

Dr.Caboclinho e DrªRisadinha: - Oi, podemos entrar?

Joana: - Nossa, é um palhaço. Com esse chapéu pensei que fosse meus parentes do interior. (risos)

Dr.Caboclinho e DrªRisadinha: - A senhora é da onde?

Joana: - Do interior de São Paulo.

A partir daí a conversa continuou animada.
Joana e Eduarda (companheira de quarto) contaram que fazem caminhada no hospital. Tornaram-se grandes amigas, pelo menos já sabem vários detalhes da vida uma da outra.
Confesso que fico impressionada ao sentir a energia que essas pessoas têm, nem aparentam que estão há tanto tempo internadas.
Um exemplo é a Meire, que de tão empolgada a colega de quarto alertou:

Ana: - Daqui a pouco ela vai querer sair da cama e dançar.

Meire:
- Vamos dançar quadrilha? Vamos compadre? Esse moço é muito simpático.
Antes que as enfermeiras nos expulsassem resolvemos sair.
Meire tinha um curativo no pescoço e apontou para o queixo do Caboclinho.

Meire: - Achei o seu remendo. (referindo-se ao cavanhaque do Caboclo)
E o povo do quarto riu demais.

Para fechar a noite as pacientes atenderam um pedido de uma enfermeira. Assim, elas cantaram e nós demos uma forcinha:“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há..."
Foi um momento mágico entre centenas dos quais vivemos. Um gesto, um aceno, um aperto de mão, um beijo que voa pelo ar. Tudo parece insignificante em nosso dia-a-dia corrido, mas quando se pára por três horas como esses aqui doutores fazem a cada 15 dias e presta-se atenção... cada movimento torna-se grandioso e entende-se o que a vida é muito mais do que podemos compreender.

Todos os relatos são baseados em fatos reais, porém, os nomes dos personagens são fictícios para preservar sua identidade.