Esse blog foi criado para divulgar o trabalho do Canto Cidadão, Organização Não Governamental (ONG), da qual a Drª Risadinha Risolina é voluntária. Nesta página você lerá textos que expressam as experiências que tenho vivido.



quarta-feira, 7 de maio de 2008

Coincidências?


Chovia muito, não tinha guarda-chuva e me molhei no caminho para o hospital. A roupa estava ensopada, mas logo peguei a roupa seca da Drª Risadinha. Ufa! Mas qual não foi minha surpresa ao me dar conta de que havia esquecido o nariz, a peça chave da personagem. Sentei desolada no banco de vestiário. E agora?
Pensei: tenho duas opções. Tiro a roupa da Risadinha e visto a molhada, volto para casa e deixo o meu companheiro Caboclinho sozinho ou ??? E agora? Ah, já sei: ou pinto meu nariz de vermelho, mas se não der certo? Mas já que estou aqui não tenho nada a perder. E lá fui pintar o narigão, alguns minutos depois lá estava a Drª Risadinha no corredor se sentindo nua. O Dr. Caboclinho percebeu na hora, mas me incentivou a continuar. Mesmo me sentindo sem graça optei por ir em frente.
Conclusão: apenas duas pacientes perceberam a falta do adereço e mais uma vez pude comprovar que as pessoas precisam e esperam bem mais que uma palhaçada. Desejam ser ouvidas e conversar nem que seja sobre qualquer coisa.

Contudo, quero contar o que aconteceu nesse mesmo dia:

Ao iniciarmos o atendimento, antes de entrar no elevador cruzamos com enfermeiros empurrando uma maca com um paciente que foi a óbito. Enfim, seguimos nosso caminho e como de costume entramos na capela, localizada no quinto andar.
Lá estavam uma moça que chorava muito e uma senhora. A moça, desesperada gritava pela mãe, se debruçava sobre a bíblia tentando encontrar uma explicação. A senhora que a acompanhava consolava-a, mas não chorava. Fizemos nossas orações e já íamos saindo quando o Caboclo resolveu dar um oi para ambas. Nesse instante a senhora, que na verdade era tia da moça pegou no braço do Caboclinho e pediu para que ele as ajudasse. Estávamos lá há uns dois minutos e só quando nos aproximamos e estendemos nossas mãos é que aquela senhora teve coragem de chorar e até precisou se sentar. Então, entendemos que se fez de forte, mas poxa, nos demos conta de que aquela paciente que os enfermeiros levavam era a mãe e irmã dessas mulheres.
A senhora pediu para ficarmos mais um tempo ali e, assim, permanecemos. Foi uma emoção tão forte que não tínhamos palavras, ficamos em silêncio. Nesse momento tive certeza de que a chuva, o nariz esquecido, a dúvida, nada poderia ser empecilho para estarmos presentes naquele momento da vida delas. Tive a plena consciência de que deveria estar exatamente naquele lugar. Realmente, nada acontece por acaso.


Todos os relatos são baseados em fatos reais, porém, os nomes dos personagens são fictícios para preservar sua identidade.