Esse blog foi criado para divulgar o trabalho do Canto Cidadão, Organização Não Governamental (ONG), da qual a Drª Risadinha Risolina é voluntária. Nesta página você lerá textos que expressam as experiências que tenho vivido.



domingo, 12 de outubro de 2008

Um dia sem a Drª Risadinha



*O relato a seguir é baseado em fatos reais, porém, os nomes das personagens são fictícios com o objetivo de preservar sua identidade.

Como o personagem Brás Cubas em “Memórias Póstumas”, ficarei feliz se ao menos cinco. Isto mesmo, cinco pessoas lerem essas poucas linhas mal escritas. Basta dizer que a autora oficial do Blog não pôde comparecer pela primeira vez com este fiel parceiro que vos escreve ao seu compromisso quinzenal, porém, esta falta não irá privar os leitores de mais um texto. Acompanhe um dia sem a Drª Risadinha.
Ao sair do elevador, uma funcionária se assustou com minha presença. Epa!!! Não posso começar com o pé esquerdo, pensei. Aí eu dei um pulo também fingindo ter me assustado, ela abriu um sorriso. Continuei pelo corredor. Cheguei à sala dos visitantes. Esta sala, na minha opinião, é um dos momentos mais delicados nas visitas, pois não temos nenhuma base da situação dos pacientes, e aí que está o perigo. Pessoas que estão esperando notícias boas ou ruins, diferente dos quartos, pois ao chegar perto dos pacientes sabemos o estado em que estão. Daí fica fácil saber se podemos incendiá-los (no bom sentido) com brincadeiras ou apenas doar um pouco de atenção.
Em frente à porta, pensei. Como eu entro? O que eu falo? A quem me dirijo primeiro? Pois quando se está em dois, tudo é mais fácil. Você escorrega e o outro te segura. Você erra, o outro corrige. Agora não, não poderia errar, não logo de cara. Ainda sem ter a mínima idéia de como entrar nessa sala, abaixei a cabeça e a solução apareceu como um passe de mágica. Tomei a decisão. Os meus “pequenos” sapatos de meio metro de comprimento entraram primeiro, comecei a balança-los escondendo meu corpo atrás do batente. Demorei alguns segundos e ouvi comentários e risadas, coloquei minhas mãos e cabeça também e logo depois o corpo inteiro. Todos que aguardavam estavam sorrindo. Ufa!!! Então comecei a conversar com todos e a brincar de maneira leve. Para fechar a história na sala de visitantes, chegou um menino de 1 ano e meio que no colo da mãe, começou a sorrir para mim, quando cheguei perto e ele colocou a mão no meu nariz vermelho, soltou uma gargalhada que ninguém agüentou e todos começaram a rir. A primeira etapa estava completa.
Saindo de lá, como de costume, fui à capela fazer uma oração e de lá desci para o 4º andar onde se localiza a clínica médica onde atendemos. Para completar o dia atípico, toda a equipe de plantão havia mudado, o que é bom, pois fazemos mais amizades.
Entrei no primeiro quarto, só haviam dois pacientes, um estava no banho, o outro estava acompanhado de uma mulher, ela estava quieta lendo uma revista, parecia não querer conversa, então fui chegando bem devagar e comecei a perguntar como estava o Marcos e quem ela era:
- Ele é meu marido.
Ele estava quieto, pois acabara de tomar medicamentos. Ela deixou a revista de lado e começou a conversar um pouco. Perguntei como eles se conheceram e da onde eles eram. Ela respondeu que eram baianos, primos, e que tinham dois filhos. Desabafou um pouco sobre a situação do marido e começou a conversar, depois agradeceu a visita e fui embora para o próximo quarto, já que o outro paciente ainda não havia saído do banho.
No quarto ao lado ouvi a história de Marieta, que veio de Portugal com 17 anos e que com 18 já estava tirando a carteira de habilitação. Adorava dirigir pela cidade, pouco asfaltada na época. Ela teve uma série de carros, desde Fusca até o atual Pálio. Lembra-se muito bem do primeiro carro, um Fusca OK. Adora o Brasil desde que chegou aqui e nunca pretendeu voltar para Portugal, nem para visitá-lo.
Costumo perguntar às pacientes se elas cozinham bem e o que elas melhor fazem quando estão em casa. Dependendo do prato a gente se convida, não é? Brincadeira!!!! É aí que entra a Dona Josefa com sua grande confissão: “cozinhei muitas vezes para o Dr. Jânio Quadros, eu era cozinheira dele quando era prefeito. Sei cozinhar um pouco de tudo”. Isso é pra você ver como o mundo é irônico. A ex-cozinheira do Jânio Quadros na minha frente e eu ainda sem jantar.
Mas como viver é aprender, incluindo estas cinco pessoas que vão ler o texto, vou lhes dar uma informação importante que recebi do paciente José Augusto, nascido em Irecê na Bahia. Fiquei sabendo que algumas décadas atrás, esta cidade chegou a responder por 30% da safra de feijão do país. Esta tradição deu o título à cidade de “Capital do Feijão”, mas o desmatamento e as queimadas, para preparar a terra, trouxeram secas à região diminuindo sua produção.
E foi assim, entrando de quarto em quarto, ouvindo belas histórias de vida, que trabalhei sem a Drª Risadinha. Como eu costumo pensar, quando você não sabe o caminho dê um passo de cada vez, afinal “É caminhando que se faz o caminho”.
Vou me despedindo de vocês que me agüentaram até este parágrafo, em recompensa desejo a vocês muito equilíbrio emocional, felicidade, paz e saúde.
Dr Caboclinho Lasanha