Esse blog foi criado para divulgar o trabalho do Canto Cidadão, Organização Não Governamental (ONG), da qual a Drª Risadinha Risolina é voluntária. Nesta página você lerá textos que expressam as experiências que tenho vivido.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Iolanda
Hoje faço questão de escrever em nome de uma amiga muito especial: a Drª Canelopsita. Em um de seus atendimentos a doutora conheceu Raul, que chamava atenção porque manuseava seu laptop. A Canelopsita já foi falando:
Que chique, só na net...
Raul: Não estou podendo tanto. O hospital ainda não tem wireless (risos).
Enquanto isso, Raul ouvia Beber, Cair e Levantar... (ritmo que não bate muito com o gosto musical da Drª Canelopsita,pois ela acredita que induz ao exagero. Mas o que não se ouve por um a amigo, né?)
Terminada a visita, a Drª Canelopsita e sua companheira Drª Empativi foram para o quarto das meninas. Lá, conheceram dona Iolanda, de setenta e poucos anos. De cara, a doutora foi logo dizendo.
A senhora é musa inspiradora, hein? Sabe que tem uma música só sua?
Dona Iolanda: Não sabia, qual é a música?
Drª Canelopsita: Não acredito que não conhece. Pera aí, pois vamos cantar.
Mas de repente... deu um branco nas doutoras e nada fazia com que elas se lembrassem da letra, nem um trechinho. E agora? Pensaram. Ficaram meio sem graça, mas a Canelopsita olhou bem nos olhos da nova amiga e fez uma promessa para Iolanda.
Drª Canelopsita: Antes de sair desse hospital hoje volto para cantar essa música para a senhora.
E não sei porque cargas d’água, as doutoras resolveram voltar no quarto do Raul. Ah, acho que foi para conhecer um hóspede recém-chegado. E de repente, o cara que ouvia Beber, Cair e Levantar estava ouvindo sabe o quê?
Iolandaaaaaaaaa.
Nossa, as doutoras pularam de alegria e, logo, confiscaram o laptop de Raul, que ainda tirou uma da cara Drª Canelopsita:
- Tenho quatro versões. Qual você prefere?
Melhor nem dizer que a doutora ficou de queixo caído, mas muito feliz também.
Eis que enfim levou o aparelho para Iolanda ouvir sua música.
É bom enfatizar que a essa altura a doutora ainda não estava convencida que ela não conhecia a música, mas que apenas se esquecera também.
Ah, e vamos para os finalmente (rs).
E a senhora de mais de 70 anos realmente ouviu pela primeira vez sua música... e chorou de emoção como todos em sua volta.
Iolanda
Chico Buarque
Composição: Pablo Milanés
Esta canção não é mais que mais uma canção
Quem dera fosse uma declaração de amor Romântica,
sem procurar a justa forma
Do que lhe vem de forma assim tão caudalosa
Te amo,
te amo,
eternamente te amo
Se me faltares, nem por isso eu morro
Se é pra morrer, quero morrer contigo
Minha solidão se sente acompanhada
Por isso às vezes sei que necessito
Teu colo,
teu colo,
eternamente teu colo
Quando te vi, eu bem que estava certo
De que me sentiria descoberto
A minha pele vais despindo aos poucos
Me abres o peito quando me acumulas
De amores,
de amores,
eternamente de amores
Se alguma vez me sinto derrotado
Eu abro mão do sol de cada dia
Rezando o credo que tu me ensinaste
Olho teu rosto e digo à ventania
Iolanda, Iolanda, eternamente Iolanda
O momento não tenho e nem preciso descrever que foi de pura emoção. E a Drª Canelopsita aprendeu algumas lições: nunca subestimar alguém com gosto musical diferente do dela e que nunca estamos sós, há sempre uma força que nos guia. Alguns anjinhos voando por aí...
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Não levo bolo pra festa
*O relato a seguir é baseado em fatos reais, porém, os nomes das personagens são fictícios com o objetivo de preservar sua identidade
Vera tem mais de 60 anos, viúva, adora freqüentar bailes para a 3ª idade. Pergunto se ela não ia com o marido.
Drª Risadinha: - Ele não gostava de dançar?
Vera: - Até gostava, mas quem já viu levar bolo para festa? (risos)
Brincadeiras à parte, Vera comentava entre uma frase e outra que costuma caminhar com a vizinha de leito, Laura, pelos corredores do hospital, mas que Laura havia passado muito mal durante todo o dia e que os papos pelo hospital diminuíram com a debilidade que a companheira tem sentido nas pernas.
Depois fui conversar com Laura que normalmente é uma das mais animadas. Mas hoje estava tristinha. Mesmo assim mantinha-se forte.
Laura: - Se tivesse feito mais coisas na vida não estaria aqui hoje.
Drª Risadinha: - Menina, que besteira é essa, para com isso.
Laura: - É verdade, penso nisso, podia ter feito muito mais pelas pessoas e não fiz.
Drª Risadinha: - Querida, Deus não é vingativo. Ele não faria isso porque você fez isso ou deixou de fazer aquilo. Há coisas que não conseguimos entender, mas com certeza Deus é amoroso e misericordioso. Fique em paz.
E parece que ela se convenceu. Continuamos uma conversa bem mais animada falando de outras coisas.
No outro quarto...
Seu Sílvio fez uma confusão só ao entrarmos no quarto. Ele pensou que eu fosse a esposa dele...acreditam?
Seu Sílvio: - Não estou enxergando direito, pensei que fosse minha mulher. (risos)
Agora imaginem, eu com minha maquiagem básica, nada cheguei. Seu Sílvio está achando que a mulher dele tem cara de que?
Palhaço, lógico, ué!
E só para encurtar a prosa, deixa eu contar a visita que fizemos a uns amigos que pareciam mais dupla sertaneja: Cristiano e Adriano. Só foi a gente falar que adorávamos cantar que eles dispararam:
Adeus paulistinha (Tonico &Tinoco)
De que me adianta viver na cidade
Se a felicidade não me acompanhar
Adeus, paulistinha do meu coração
Lá pro meu sertão, eu quero voltar
Ver a madrugada, quando a passarada
Fazendo alvorada, começa a cantar
Com satisfação, arreio o burrão
Contando estradão, saio a galopar
E vou escutando o gato berrando
Sabía cantando o jequitibá
Por nossa senhora,
Meu sertão querido
Vivo arrependido por ter deixado
Esta nova vida aqui na cidade
De tanta saudade, eu tenho chorando
Aqui tem alguém, diz
Que me quer bem
Mas não me convém,
eu tenho pensado
eu digo com pena, mas esta morena
não sabe o sistema que eu fui criado
To aqui cantando, de longe escutando
Alguém está chorando,
Com rádio ligado
Que saudade imensa do
Campo e do mato
Do manso regato que
Corta as Campinas
Aos domingos ia passear de canoa
Nas lindas lagoas de águas cristalinas
Que doce lembrança
Daquelas festanças
Onde tinham danças e lindas meninas
Eu vivo hoje em dia sem Ter alegria
O mundo judia, mas também ensina
Estou contrariado, mas não derrotado
Eu sou bem guiado pelas
mãos divinas
Pra minha mãezinha já telegrafei
E já me cansei de tanto sofrer
Nesta madrugada estarei de partida
Pra terra querida que me viu nascer
Já ouço sonhando o galo cantando
O nhambu piando no escurecer
A lua prateada clareando a estrada
A relva molhada desde o anoitecer
Eu preciso ir pra ver tudo ali
Foi lá que nasci, lá quero morrer
Eeeeeeita trem bão sô!
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